26/03/10

A. Ivanov "Aparição de Cristo diante do povo"


Alexandre Ivanov “Aparição de Cristo diante do povo” (1837-1857)
O público russo teve conhecimento deste quadro, pela primeira vez, através das cartas do seu amigo Gogol, antes disso só as pessoas que estiveram em Roma, onde vivia Ivanov, o conheciam. Todos queriam vê-lo, mas durante os últimos 10 anos de trabalho as portas do estúdio de Alexandre Ivanov estiveram vedadas ao público até que terminasse completamente o seu quadro.

E de repente a notícia que o estúdio estava aberto espalhou-se pela cidade, logo o estúdio se encheu de gente: toda a Roma foi ver o quadro, da nobreza às pessoas mais simples. Os pintores de todas as nacionalidades e tendências só falavam do quadro do pintor russo Alexandre Ivanov.

Em 1858, o quadro chegou a São-Petersburgo sendo colocado no Palácio Real de Inverno, Hermitage, mas este não impressionou a corte. Quando tal situação foi conhecida, a atitude dos peritos oficiais mudou de repente. Muitos académicos famosos esperavam ver mais um quadro histórico de estilo antigo e habitual, mas em vez disso algo completamente novo, não parecido com os modelos antigos, apareceu perante eles. Alexandre Ivanov no seu quadro corajosamente abandonou a composição académica tradicional, que exigia que todas as personagens deviam ser divididas pelos grupos artificiais, como nas encenações teatrais, cada um dos quais devia com perfeita evidencia exprimir certos sentimentos e pensamentos. Mais um ponto da crítica eram as figuras nuas no quadro, que não são suficientemente coordenadas com estátuas antigas clássicas.

Este quadro está igualmente envolvido numa curiosa e macabra história, pois surgiu nesta altura um boato que o Czar ia dar só 10 ou mesmo só 8 mil rublos pelo quadro, em vez dos 30 inicialmente planeados. O pintor cansado das preocupações, humilhações e indiferença e de lhe ser recusada uma vez mais uma audiência no Palácio Ivanov adoece e morre 3 dias depois. Umas horas após a sua morte chegou um mensageiro do Czar com a notícia que o quadro seria comprado por 15 mil rublos e que o pintor iria receber a Medalha de São Vladimir.

O tema do quadro é conhecido. João Baptista, baptizando o povo judaico no rio Jordão em nome do esperado Salvador, de repente vê aquele, em cujo nome ele baptiza as pessoas.


A cara pálida e magra de João, o olhar ardente e discurso apaixonado, todos os movimentos desta bonita e majestosa figura transmitem a impressão de medo e esperança. João está vestido com a roupa curta de pêlo de camelo e com um manto amarelado. Ele está a olhar para o Messias que se está a aproximar. Esta notícia produz grande excitação e curiosidade entre as pessoas aí reunidas.
Eis o momento que Ivanov descreve no seu quadro.


No primeiro plano do quadro à direita está um homem nu, que já se estava a preparar para vestir, mas é interrompido pela notícia. A alegria e emoção estão na sua cara, os olhos enchem-se de lágrimas. Esta cara é tão bem pintada, que nós quase que podemos ver o tremer dos músculos de seu rosto, em todo o seu corpo sente-se a sua alegria e expectativa. Um rapaz com os braços cruzados está junto a ele, talvez o seu filho, que ainda não percebendo bem o significado das palavras do profeta olha para João com ansiedade e medo. Só este grupo seria suficiente para imortalizar o nome do pintor.

Algumas pessoas neste grupo viraram-se na direcção que mostra João, os outros ficaram como antes. Vêem-se os rostos arrogantes e mal-humorados dos velhos fariseus, os soldados romanos ao fundo do plano. Mesmo as caras tristes e tímidas de mulheres em que algumas delas só se vêem parcialmente são pintadas de tal maneira que o espectador pode facilmente imaginar toda a sua face.
Na distância podemos ver o próprio Messias. Até a falta de nitidez dos traços de sua cara faz parte da intenção do pintor, para dessa forma suscitar a imaginação do observador.

Não sem razão Ivanov procurava por toda a Itália os modelos parecidos com as pessoas da antiga Judeia e pintava inúmeros esboços ao ar livre. O pintor visitava as igrejas e sinagogas para observar as pessoas a rezar.
O Alexandre Ivanov trabalhou durante 20 anos neste quadro. Para este tipo de obra só um génio e conhecimento de arte não são suficientes. É preciso ter uma grande espiritualidade e capacidade de se manter sempre presente com a ideia, até que ela não amadurece na mente e não se exprime artisticamente na tela e assim revolucionar a partir deste quadro a forma de pintar.
O quadro encontra-se em exibição na Galeria Tretiakov em Moscovo, sendo um dos quadros mais conhecidos da Rússia.

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