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A diversidade de géneros em escultura não é tão vasta como em pintura, o tema principal para os escultores são imagens de pessoas ou animais. Trabalhando com género de retrato, os escultores russos dos séculos XVIII-XIX normalmente representavam os seus contemporâneos fazendo esculturas de modelo vivo.
O famoso mestre russo Mark Antokolsky (1843 – 1902) fez uma tentativa de expandir as opções de escultura, mudar o seu diapasão temático. Ele criou uma “galeria” de retratos de figuras históricas russas que nunca conheceu. Antkolsky criou os seus retratos com base num estudo meticuloso de documentos históricos, de retratos já feitos em vida das suas personagens e nos seus próprios pensamentos e ideias sobre a missão histórica delas.
Na segunda parte dos anos 70, Antokolsky começa a criar cada vez mais, não tanto figuras-retratos, mas antes figuras-símbolos, encontrando-se atraído pelos novos heróis, novos carácteres. "Dramatismo forte, efervescência, excitação e impulso agora não fazem parte dos motivos da sua obra, - escreveu Stassov, um historiador de arte russo, - a antiga actividade ferventa dos seus heróis desapareceu, substituída por passividade bem-humorada, mas que está cheia de poesia, humanidade, espiritualidade, revolta contra o mal e a mentira".
A primeira obra na fila das novas imagens é “Cristo perante o julgamento do povo”, segundo o próprio escultor, o Cristo dele é assim, como ele “se vê no século XIX”. Depois de conhecimento público do livro do historiador francês Ernest Renan “A vida de Jesus” a grande mudança em relação à figura de Jesus aconteceu na sociedade europeia, muitos passaram a considerá-lo como uma figura histórica real. Antokolsky exprimiu esta atitude na escultura.
Na imagem criada por Antokolsky há uma tragicidade de “reformador revoltado contra fariseus e saduceus”, que está perante o julgamento daqueles que ele defendeu e que não conseguiram entendê-lo.
“Eu escolhi este momento, - escreveu o escultor, - porque foi aqui que o nó de drama se atou, o movimento espiritual de Jesus neste minuto é maravilhosamente grandioso”. Ao mesmo tempo a personagem criada pelo escultor está exteriormente calma e este é o verdadeiro poder do alto sentimento que penetra na alma das pessoas. Foi essa “simplicidade difícil” que Antokolsky quis criar: “Eu queria criar o silêncio e profundidade, simplicidade exterior e profundidade interior nesta estátua…”
Tudo na imagem de Cristo é reservado, harmonioso, grandioso. No olhar de Cristo, feito com grande talento, sente-se distanciamento e elevação especiais. O Cristo de Antokolsky está intransigente e convencido da sua razão, nele nem há um protesto activo, nem desespero. A sua cara inspirada e delicada transmite luz e bondade, mas esta luz não é religiosa ou mística, é a luz de espírito. O próprio Antokolsky pensava assim, dizendo que tencionava mostrar Cristo “nem tanto o Deus-homem, mas sim um símbolo moral e ético".
A estátua em bronze encontra-se em exibição no Museu Russo, em São-Petersburgo, e a sua versão em mármore está na Galeria Tretiakov, em Moscovo.
P.S. Nós pessoalmente gostamos mais da sua escultura “Mefistófeles”, mas este já é outro tema.